Os fatores de governança no imobiliário e no contexto ESG

 

João Fonseca | Perito avaliador de imóveis

Na avaliação imobiliária contemporânea, os fatores de “Governance”, inseridos no contexto mais amplo das considerações ambientais, sociais e de governança (ESG), desempenham um papel crucial na determinação do valor de um ativo e na sua atratividade para investidores conscientes. Estes fatores, que se estendem desde a estrutura do conselho de administração até aos esquemas de denúncia, refletem a saúde institucional e a sustentabilidade de uma organização, influenciando diretamente a perceção de risco e, consequentemente, o valor dos imóveis relacionados, devem merecer a atenção do perito avaliador de imóveis certificado.

 

Um dos aspetos centrais na análise da governança corporativa é a estrutura do comité de auditoria. Este órgão é fundamental para assegurar que as práticas financeiras de uma empresa são transparentes e conformes com os padrões regulatórios. A eficácia e independência do comité de auditoria podem influenciar a confiança dos investidores na viabilidade financeira de uma empresa, o que, por sua vez, pode refletir-se na valorização dos imóveis que a empresa possui ou gere.

 

A diversidade e a estrutura do conselho de administração são outros elementos críticos na avaliação de governança. Conselhos diversos, que incorporam uma variedade de experiências e perspetivas, tendem a tomar decisões mais equilibradas e a considerar um leque mais amplo de riscos e oportunidades. Num contexto imobiliário, um conselho diversificado pode significar uma abordagem mais holística na gestão de ativos, influenciando positivamente o valor dos imóveis através de práticas mais inclusivas e inovadoras.

 

A questão do suborno e da corrupção é igualmente vital. A existência de políticas rigorosas contra a corrupção é um indicador de governança robusta, que protege os investidores e assegura que as transações imobiliárias são conduzidas de forma justa e legal. A ausência de tais práticas desincentiva a corrupção, reforçando a integridade do mercado imobiliário e, por conseguinte, a confiança dos investidores.

 

A governança corporativa, como um conceito mais amplo, abrange todos estes elementos, proporcionando uma estrutura pela qual as empresas são dirigidas e controladas. A transparência e a responsabilidade corporativa são princípios fundamentais aqui, com impacto direto na forma como os ativos imobiliários são geridos e na reputação das empresas proprietárias ou gestoras desses ativos.

 

Além disso, os padrões de relatórios ESG e os custos regulatórios associados têm vindo a ganhar destaque na avaliação imobiliária. A conformidade com os relatórios ESG demonstra o compromisso de uma empresa com práticas sustentáveis e socialmente responsáveis, um fator cada vez mais valorizado pelos investidores. Embora os custos regulatórios possam ser significativos, eles também garantem que as práticas empresariais estão alinhadas com as expectativas sociais e ambientais, o que pode aumentar o valor dos imóveis ao mitigar riscos reputacionais.

 

A remuneração dos executivos é outro fator relevante. Pacotes de remuneração excessivamente elevados podem sinalizar uma má governança, enquanto uma remuneração alinhada com os objetivos de longo prazo da empresa pode indicar um compromisso com a sustentabilidade. Na gestão de imóveis, isso pode traduzir-se numa administração mais eficaz dos ativos, com impacto direto na valorização dos mesmos.

 

A força institucional de uma empresa, que se reflete na sua capacidade de resistir a crises e na continuidade das suas operações, é um componente crucial na avaliação imobiliária. Empresas com forte institucionalidade oferecem maior segurança aos investidores, o que pode resultar em prémios de valor para os seus ativos imobiliários.

 

O planeamento da sucessão na gestão garante a continuidade da liderança e pode afetar a estabilidade de uma empresa. Esta estabilidade é vital para a gestão de longo prazo de ativos imobiliários, influenciando positivamente o seu valor.

 

Finalmente, o estado de direito e a existência de esquemas de denúncia são essenciais para assegurar um ambiente de negócios justo e transparente. A confiança na aplicação das leis e a possibilidade de denunciar irregularidades sem retaliação promovem um mercado imobiliário mais íntegro, protegendo os valores dos ativos e assegurando que as práticas empresariais estão em conformidade com os mais altos padrões éticos.

 

Em suma, os fatores de governança no ESG moldam profundamente o ambiente no qual o valor imobiliário é determinado. Investidores e avaliadores imobiliários atentos a esses fatores estão melhor posicionados para avaliar corretamente os riscos e as oportunidades, assegurando que as suas decisões refletem não apenas o valor presente, mas também a sustentabilidade futura dos ativos.

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