Mediana vs média: porque a média nos engana mais do que informa


Mediana vs média é hoje uma distinção essencial para compreender como os números moldam discursos políticos, análises económicas e até avaliações imobiliárias. A estatística é uma ferramenta poderosa, mas também pode ser usada de forma simplista ou conveniente, criando perceções que pouco têm a ver com a realidade experienciada pela maioria. Neste artigo defendo a mediana como o indicador que para o perito avaliador de imóveis certificado melhor representa o valor típico. E explico porque a dependência excessiva da média continua a distorcer debates públicos e diagnósticos do mercado.



João Fonseca, perito avaliador de imóveis certificado     

Mediana vs média na análise política

Os discursos políticos recorrem frequentemente à média para simplificar realidades complexas. Quando se afirma que o país está perto da média europeia, raramente se contextualiza que essa média é influenciada por economias muito maiores e por situações económicas extremas. Surge assim um número híbrido, sem textura, que parece sólido mas pode ser enganador. O mesmo acontece com o salário médio. Este valor pode aumentar mesmo que quase ninguém veja qualquer melhoria no seu rendimento. Basta que um pequeno grupo de salários muito altos suba para deslocar a média. É por isso que a média é vulnerável a extremos e pouco representativa da experiência da maioria.

 

Mediana vs média: porque a média é tão frágil

A fragilidade da média reside na sua sensibilidade aos valores atípicos. Um salário excecionalmente alto, ou um negócio imobiliário de grande dimensão, altera substancialmente a média sem alterar aquilo que é comum. Assim, a média pode transmitir uma realidade estatística que não corresponde à realidade social. Quando um indicador é útil para quem o comunica, mas prejudicial para quem o interpreta, o problema deixa de ser técnico e passa também a ser narrativo.

 

Mediana vs média: porque a mediana representa a maioria

A mediana responde à pergunta central: qual é o valor típico? Se ordenarmos todos os rendimentos, a mediana é o valor exatamente ao centro. Este ponto ignora valores extremos, captando a realidade da maioria. Por isso, a mediana é mais útil para avaliar desigualdades reais, orientar políticas públicas, interpretar mercados e evitar leituras distorcidas. Onde a média facilita narrativa, a mediana devolve realidade.

 

Mediana vs média no mercado imobiliário

No mercado imobiliário, o problema torna-se ainda mais evidente. É comum utilizar preços médios por metro quadrado. Porém, a venda de um imóvel excecional pode inflacionar este valor, criando a ilusão de que os preços da zona subiram mais do que subiram na realidade. Quando se baseia uma avaliação imobiliária na média, podem surgir distorções significativas. As rendas podem ser definidas com base em expectativas irreais, as políticas públicas partem de diagnósticos incorretos e a perceção do mercado afasta-se da realidade típica. Se se utilizasse a mediana das transações, grande parte destas distorções desapareceria.

 

Exemplos simples de mediana vs média

Exemplo 1: Numa zona onde nove imóveis são vendidos entre cento e oitenta mil e duzentos e vinte mil euros e um imóvel excecional é vendido por três milhões:
  • A média sobe drasticamente.
  • A mediana permanece perto dos duzentos mil euros.
Exemplo 2: Se quatro trabalhadores ganham entre novecentos e mil e cem euros e um gestor ganha vinte e cinco mil euros:
  • A média dispara.
  • A mediana permanece em torno dos mil euros.
Estes exemplos mostram como a média pode esconder a realidade e como a mediana a pode revelar.

 

Conclusão: mediana vs média como escolha técnica e narrativa

Quando se escolhe usar a média em vez da mediana, essa escolha é técnica mas também narrativa. É uma decisão sobre o que se quer mostrar e sobre o que se pretende silenciar. Num contexto marcado por desigualdades, pressão sobre os rendimentos e crise na habitação, o rigor estatístico não é apenas um detalhe, mas uma necessidade. A mediana não é perfeita, mas tem uma virtude essencial: representa-nos mais a nós do que aos extremos. E isso, numa sociedade desigual, é decisivo.

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