Brito Capelo!
Brito Capelo
foi um brilhante Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, também engenheiro
hidrográfico e meteorologista, que deu o seu nome à mais conhecida rua
da cidade de Matosinhos.
Quem como nós
conheceu a Rua Brito Capelo, nos anos 70 e 80, não pode deixar de sentir revoltado
com o seu atual estado de abandono e degradação. Era uma rua fervilhante do
ponto de vista comercial, não deixando também de ser habitacionalmente
relevante.
Muitos cidadãos
de Matosinhos associam este declínio ao surgimento da linha de Metro, o que do
nosso ponto de vista é errado. As razões são mais profundas e estão intimamente
relacionadas com as políticas públicas praticadas pelos sucessivos poderes
autárquicos.
Aliás, já
tivemos a oportunidade, em dois artigos anteriores, de criticar algumas políticas
praticadas pela autarquia:
(ou como os
supermercados de conveniência secam tudo à volta!)
Quem conhece
a cidade do Porto conhece, de certeza absoluta, o cruzamento do Monte dos
Burgos.
É um
cruzamento curioso porque agregava três freguesias (antes da recente
reorganização), agora duas, e de concelhos diferentes.
Além de ser
um local com um tráfego muito intenso é também uma zona habitacional
interessante, com um misto de habitação unifamiliar e de construção em altura.
Por isso, a
zona do cruzamento do Monte dos Burgos é muito favorável ao comércio
tradicional de proximidade onde coexistem, por exemplo, um talho, um “pão
quente”, uma loja de eletrodomésticos, uma frutaria, uma farmácia e um “take
away”. Isto em 45 metros de rua!
Só que os
eucaliptos chegaram!
Num ápice
apareceram três supermercados chamados de conveniência, que convenientemente
têm, cada um, cerca de oitocentos metros quadrados de superfície comercial.
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A antiga
fábrica da Gist-Brocades, em Matosinhos, ocupava uma área aproximada de três
hectares, numa zona industrial constituída, desde os inícios do século XX, na
zona sul da cidade.
Cessou a sua
atividade no ano de 2001, fruto da pressão exercida para recuperar e
reconverter a zona e também de eliminar o forte impacto ambiental
negativo, que se refletia na forte contaminação dos solos e águas subterrâneas
por nafta e formaldeído, entre outros produtos.
A
transformação deste espaço deu origem ao empreendimento designado Palácio da
Enseada.
Este pequeno
“case study” poderia encerrar múltiplas abordagens mas por hoje centramo-nos
apenas em duas:
- O uso
inicial para a zona em estudos era de serviços, tendo sido alterado, em sede de
Plano de Pormenor, para residencial.
- A subversão
do Plano Diretor Municipal, através do Plano de Pormenor:
Estes artigos têm alguma coisa a
ver com a Brito Capelo, também? Claro que sim!
O primeiro, porque tem sido política
das sucessivas administrações autárquicas matarem o comércio local. Matosinhos
será, provavelmente, um dos concelhos com mais médias/grandes superfícies por
metro quadrado.
O segundo, porque Matosinhos-Sul,
pensada pelos mais proeminentes arquitetos portugueses (apesar de que em maior
parte dos empreendimentos as saídas das garagens fazem-se por passadeiras de
peões!), privilegiou a habitação da classe média alta em vez de um “mix”
equilibrado de habitação e serviços.
Quem habita em Matosinhos-Sul sai
de casa de manhã, chega à noite e faz as suas compras num qualquer hipermercado
dos que pululam pelo concelho ou concelho limítrofe.
A estes motivos juntam-se a transferência de
todos os serviços públicos para outra zona da cidade. Foi a Câmara Municipal,
foram os antigos CTT, as Finanças, …. Afinal, que “âncora” existe na Rua Brito
Capelo, que “obrigue” as pessoas a lá irem? Agora, até as instituições
bancárias estão a abandonar a zona!
Com a criação das Áreas de
Reabilitação Urbana abrem-se novas janelas de oportunidade para o local.
O nosso receio é que se tentem
copiar modelos de concelhos vizinhos e colá-los no local.
A história da Rua Brito Capelo merece
ser vivida e sentida.
Devem ser criadas condições para
que as pessoas a habitem.
Devem ser criadas estruturas “âncora”
que obriguem as pessoas a frequentá-la.
Não façam da Rua Brito Capelo uma
discoteca!
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