Avaliação de Empresas Intensivas em Conhecimento

(Por Paulo Pires e Frederico Mendes)

Avaliação de Empresas

Frederico Mendes e AssociadosAvaliação de empresas é um tema com quase tantos anos como o próprio nome “Empresa”. Criadas para suportar todo o sistema capitalista, rapidamente se tornaram como a principal fonte de riqueza, agregadoras de capital físico e humano. 

A “Empresa” tem sido alvo de muito estudo e aprofundamento, à medida que o próprio sistema capitalista se vai alargando à escala global. Pois bem, em que se consubstancia afinal uma “Empresa”? Sujeitando-nos a uma certa simplicidade a Empresa é não mais que um meio desenvolvido para atingir um propósito – o propósito de criação valor.

Quanto vale então uma Empresa? Esta questão não é de fácil resolução e diversos métodos para obter este valor têm surgido ao longo dos anos. Modelos económicos e financeiros como Discounted Cash-Flows, Múltiplos, Economic Value Added, Modelo Trifatorial; Opções Reais; foram desenvolvidos e desenvolveram-se para responder às mais diversas necessidades: (1) Investimento; (2) Aquisição; (3) Financiamento; (4) Hierarquização; ou ainda (5) Encerramento.

A utilização do modelo mais apropriado depende de diversos fatores relacionados com o seu enquadramento e propósito final.

Empresas Intensivas em Conhecimento 

A par com a entrada no século XX, um novo panorama instalou-se nos países ditos mais desenvolvidos. Os ganhos e as vantagens competitivas que estes países possuíam em centralizar a sua atividade económica na indústria começaram a ser postos em causa e um novo setor ganhou relevância – os serviços. Com o desenvolvimento deste setor, o conhecimento especializado assumiu-se como um novo fator produtivo gerador de riqueza. Este deve ser encarado como um fator estratégico que pode e deve ser explorado pelas organizações no sentido de promover o desenvolvimento sustentado das mesmas.

Empresas Intensivas em Conhecimento podem ser caracterizadas pelos seguintes fatores:

· Empresas novas e/ou em setores nascentes;
· Rápido crescimento;
· Reduzidos investimentos fixos;
· Mão-de-obra altamente qualificada e especializadas;
· Recursos Humanos e promoção surgem como principais investimentos.

Assim, a avaliação de Empresas Intensivas em Conhecimento é em si um tema digno de ser explorado devido à introdução da variável risco/incerteza. Como veremos mais à frente, a evolução destas empresas não se faz de uma forma linear, nem tão pouco é um dado adquirido. Na Frederico Mendes & Associados deparamo-nos comummente com a necessidade de utilizar com alguma cautela o conceito de “cash-flows futuros esperados” e a questão de qual o modelo mais adequado a utilizar é usualmente colocada. Em boa verdade a avaliação de Empresas Intensivas em Conhecimento pode ficar defeituosa, conduzindo a conclusões completamente erradas, caso os modelos não sejam devidamente utilizados.

Embora o modelo Trifatorial apresente vantagens e acurácia demonstradas a avaliar o valor de cada Empresa (especialmente cotadas), a sua utilização revela-se como complexa e de difícil implementação. A utilização da teoria das opções reais é bastante promissora, abordando temas como a flexibilidade de escolhas e o papel da gestão em cada projeto/opção de investimento, no entanto não é de fácil utilização no meio profissional e acaba por utilizar os mesmos dados que o método dos Cash-Flows Descontados. Já métodos como os múltiplos ou o Economic Value Added são mais indicados para avaliar negócios com um histórico representativo e em setores de atividade maduros. 

Assim, a utilização do modelo dos Cash-Flows Descontados continua a recolher a nossa preferência para avaliar eficazmente negócios baseados em conhecimento, salvaguardando a necessidade de uma abordagem mais cuidada comparativamente à avaliação de um negócio maduro, com um histórico estável e onde a estrutura produtiva está claramente indexada aos investimentos fixos que se realizam. 

Desse modo, passaremos a esquematizar a abordagem correta de que toca à avaliação de Empresas Intensivas em Conhecimento:

1. Nestas Empresas é necessário antes de mais clarificar quais as fontes de rendimento. Como vai o negócio gerar dinheiro, em que mercado atua e quais os potenciais clientes? De que depende a faturação – recursos humanos? Fornecedores? Equipamentos? Propriedade intelectual? Este exercício torna-se mais importante quando estivermos perante negócios dependentes do conhecimento e carteira de clientes adquiridos.

2. Todo o negócio, por mais promissor que seja, atingirá o estado de maturidade. A questão de perceber quando alcançaremos este estado assume igualmente uma certa importância de forma a definirmos o período temporal de análise.

3. Com base nas duas primeiras informações, deve-se calcular qual o estado espectável do negócio na sua maturidade. Estando ainda a trabalhar unicamente a questão dos proveitos, deve-se fazer uma estimativa razoável de quanto pode a Empresa faturar quando atingir o seu apogeu. É esperado que este seja um processo dinâmico na medida em que a estrutura de investimentos necessários para atingir este objetivo deve também ser tida em conta e posteriormente aferida a sua razoabilidade. 

4. Um dos pontos que mais difere a avaliação de Empresas Intensivas em Conhecimento de uma avaliação standard é a evolução do negócio. O processo de avaliação é bastante sensível a este ponto. Nos primeiros anos de atividade, o investimento necessário é avultado devido a processos de Investigação & Desenvolvimento que se destinam à obtenção do produto/componente que se pretende comercializar ou incorporar no produto final. O próprio processo de comercialização passa por ciclos de vida distintos e com crescimentos progressivamente maiores antes de atingir a maturidade. Sequenciar as principais fases do projeto, incluindo o período das mesmas, até atingir a maturidade ajuda a definir a estrutura de custos e proveitos em cada fase.

5. Cumpridos os pontos anteriores, estamos em condições de aplicar o modelo definido, o Discounted Cash-Flow Model. A este respeito, o período de análise deve ser definido. Ora, este processo pode variar de Empresa para Empresa tendo em conta a natureza do negócio, investimento inicial, ciclo de vida do produto, etc. O cálculo da Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) e do Valor Atualizado Líquido (VAL) assume especial relevância na medida em que permitem resumir de forma objetiva todos os pressupostos e resultados num valor universal – determinado montante de dinheiro. Uma pesquisa rápida na web pode-nos ser útil uma vez que nos dá um termo de comparação para a taxa de atualização utilizada (e.g.: Damodaran).

6. Devem-se desenhar diferentes cenários e verificar o valor da Empresa em cada um deles. Este é, a par da evolução do negócio, o ponto mais importante quando falamos em avaliação de empresas que utilizam o conhecimento como fonte de competitividade. Os pressupostos assumidos podem facilmente não se verificar e quem vai criar/investir/adquirir/gerir um negócio deve estar bem ciente de como este pode variar em termos da capacidade de gerar valor. Assim deve ser estimado o valor da Empresa assumindo quebras nas receitas e/ou aumento de custos (outros cenários podem ser avaliados, e.g.: variação momento em que uma nova tecnologia será lançada no mercado).

Conclusão

Com este procedimento somos capazes de avaliar um negócio de uma forma dinâmica e tendo sempre presente variações nos pressupostos definidos. Para Empresas em que a sua base de riqueza é o capital humano e os seus “ativos” intangíveis, sem histórico representativo e inseridas num mercado em constante crescimento/mutação, esta metodologia revela-se como sendo a mais indicada pelos aspetos referidos anteriormente.


Sobre os Autores

Paulo Pires (pp@fredericomendes.pt) é Associate da Frederico Mendes & Associados.

Frederico Mendes (fm@fredericomendes.pt) é Managing Partner da Frederico Mendes & Associados

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