Um olhar critico sobre a posição da Associação Portuguesa dos Avaliadores de Engenharia
As três entidades que regulam o sistema financeiro e segurador
em Portugal (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, Banco de Portugal e
Instituto de Seguros de Portugal) colocaram em discussão publica até 15 de
janeiro passado o documento “A
AVALIAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE IMÓVEIS – UMA ABORDAGEM INTEGRADA PARA O SISTEMA FINANCEIRO PORTUGUÊS –“, convidando
todas os profissionais do setor e associações profissionais a melhorar o
documento com sugestões e criticas.
É a sugestão da APAE- Associação Portuguesa dos Avaliadores
de Engenharia que nos permitimos criticar (e também apoiar) no artigo de hoje.
A carta foi obtida no endereço http://www.oet.pt/downloads/CartaAPAE-PresidenteCMVM.pdf
. Pode também ser obtida aqui.
Comecemos pelo mais fácil, pelo que concordamos. Achamos de
todo correto que as Ordens Profissionais e as Associações Profissionais do
setor tenham assento permanente no Colégio de Peritos. Representando elas os
profissionais do setor faz todo o sentido que lá estejam presentes.
Vamos ao que discordamos.
Uma das posições com que discordamos frontalmente é reduzir a
disciplina da avaliação de imóveis só aos profissionais de engenharia e da arquitetura.
Desde logo porque se desvia do que é o paradigma do
imobiliário nos dias de hoje. O imobiliário é rendimento. Quem melhor que as
competências da área da gestão e da economia para lidar com estas matérias?
A avaliação de imóveis não pode ser reduzida “ao técnico
encarregue da avaliação para: determinar, verificar e interpretar riscos
ocultos e vícios ou patologias, prever a evolução da degradação e contemplá-las
na avaliação”. A avaliação de imóveis vai muito para lá disso.
Recordemos, muito sucintamente, que são três os métodos
tradicionais de avaliação, e aplicados por esta ordem: método comparativo de
mercado, método do rendimento e método do custo. Dito de uma outra forma,
regressão linear simples ou múltipla, “cash-flows” e, por último, custos do
terreno, mais custos de construção, mais margem de lucro, menos depreciação.
O que queremos afirmar? Que a avaliação de imóveis é
multidisciplinar e todos os saberes não estão unicamente dentro das áreas de
engenharia ou arquitetura. Se a área da engenharia se sente capaz de “invadir”
a área das ciências económicas porque é que o contrário não pode acontecer?
A nossa outra discordância de maior peso prende-se com o
conceito de Justo Valor, quando afirma que “O JUSTO VALOR de um imóvel, determinado por
avaliação efetuada por perito avaliador, deve ser ÚNICO, independente da
finalidade da avaliação. A influência do risco de análise de crédito, ou de
outro objetivo, deve ser resolvida pela aplicação de diferentes coeficientes ao
justo valor determinado”.
Claramente, parece-nos que a teoria univalente
da avaliação não cabe na definição de justo valor.
Por um lado, é importante salientar que o Justo Valor
não corresponde, necessariamente, ao valor de mercado dos imóveis. De facto,
poderão existir fatores que façam uma majoração ou minoração do valor de
mercado para se encontrar o justo valor de um ativo, o que faz com que ele não
seja único.
Por outro lado, porque as Normas Internacionais
de Contabilidade, vertidas no normativo nacional pelas Normas Contabilísticas e
de Relato Financeiro, definem metodologias distintas de avaliação dos imóveis,
consoante eles sejam Ativos Fixos Tangíveis, Ativos Não Correntes Detidos Para Venda
ou Unidades Operacionais Descontinuadas, ou ainda Propriedades de Investimento.
E são estas normas que as entidades que
promoveram o documento de consulta pública utilizam.
A questão da avaliação de imóveis, quanto aos
seus profissionais, é um pouco como no futebol. Há quem defenda que os
treinadores devem ser licenciados em Educação Física. Mas é bem verdade que
qualquer um dos maiores clubes nacionais teve treinadores de grande sucesso sem
qualquer licenciatura. Tinham o “cheiro do balneário”.
Para nós a avaliação de imóveis é bem definida no filme The
Untouchables, de Brian de Palma: “team work”
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