Nova lei dos direitos de preferência
O artigo de hoje tem a autoria do André Maia, consultor imobiliário sénior da empresa Home Hunting. Achamos o tema interessante e como nós não explicávamos melhor, pedimos autorização para o partilhar:
"No seguimento da intervenção do Estado no Setor Imobiliário, outro highlight das
últimas semanas é a revisão da lei dos direitos de preferência para os
inquilinos. A atualização do artigo 1091º do Código Civil trouxe algumas
surpresas, algumas bastante negativas na minha opinião.
Falando do maior disparate, agora é possível que na transmissão de um prédio em
propriedade total, o inquilino de um dos alojamentos possa preferir comprar a
quota-parte do alojamento dele (antes só era válido em regime de propriedade
horizontal, onde esse alojamento seria uma fração autónoma). Para complicar, o
inquilino pode só querer comprar a dele, não é obrigatório que todos se juntem
para comprar. O preço de venda unitário é atribuído de acordo com a percentagem
dos m2 do alojamento em função de todos os m2 do negócio e dos prédios
envolvidos. Isto vai resultar na desistência da decisão de compra por parte do
investidor.
Exemplo prático:
Um investidor está a preparar uma aquisição de um prédio em propriedade total
com 10 alojamentos em mau estado (alguns arrendados e alguns devolutos), para
renovar e recolocar no mercado em arrendamento. O preço de compra do prédio é
de 2 milhões €, o que significa 200.000€ por cada alojamento. Quando é feita a
comunicação aos inquilinos, um deles percebe que a casa dele vale 300.000€ (vendida
individualmente a preço de mercado) mas pode comprar via direito preferência
por menos 100.000€! Que espetáculo.
O investidor que ia pagar 2 milhões € por 10 alojamentos não quer avançar se
ele não puder ter a totalidade da propriedade que quer comprar. Ele propôs-se a
comprar um edifício e não uma manta de retalhos. Portanto, 1 inquilino pode
influenciar o desfecho de um negócio de dimensões (muito) superiores. Não é de
todo o que um investidor institucional quer ouvir quando está a pensar investir
no mercado de buy-to-let em
Portugal."
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