Quando acabará a paragem dos PAI?
A primeira semana de greve dos peritos avaliadores de imóveis chegou ao fim, justificando-se um primeiro balanço. O movimento MPAI, enquanto entidade organizadora, foi convidado para o fazer neste espaço.
O texto que se segue é da sua inteira responsabilidade e é publicado
integralmente.
"Quando acabará a paragem dos PAI?
Nota introdutória: esta publicação é feita pelo
MPAI a convite do colega João Fonseca, que muito agradecemos.
Começou, no dia do Pai, 19 de março, uma
suspensão de atividade dos Peritos Avaliadores de Imóveis. Até 3 de Abril, os
peritos recusam processos de Crédito à Habitação, em forma de protesto contra
as condições insustentáveis verificadas atualmente nesta profissão.
Esta suspensão de avaliações para os bancos
está a ser promovida pelo Movimento dos Peritos Avaliadores de Imóveis (MPAI), um grupo
de trabalho criado em 2018 com o propósito de lutar pela melhoria das condições
da atividade de Avaliação Imobiliária para o sistema financeiro nacional.
A degradação
da atividade é humilhante e a passividade das entidades envolventes é
estarrecedora. No entender do MPAI, chegou o momento de os Peritos tomarem as
rédeas da situação, pois nestes últimos 4 anos tornou-se claro que só eles têm
vontade e interesse em mudar esta situação.
As
reivindicações que os Peritos apresentam são: Relatórios não editáveis,
controlo de peritos certificados e registados na CMVM, fim da coação dos prazos
de execução e remuneração compatível com os gastos e responsabilidade da atividade.
- Os
relatórios de avaliação que saem do perito em formato editável, alteráveis sem
conhecimento do perito.
- Não
controlo da existência de peritos não certificados a visitar imóveis e a
elaborar relatórios de avaliação, posteriormente subscritos por peritos
registados na CMVM (o que contraria a Lei153);
- Imposição
de prazos de 1 a 3 dias para a receção/realização/entrega do relatório de
avaliação sob penalizações remuneratórias;
-
Remuneração justa: os Peritos recebem, em média, apenas 17% do valor
da avaliação que o cliente paga ao banco. É a eles que cabe agendar a visita ao
imóvel, a deslocação, a inspeção técnica, a análise documental, a elaboração do
relatório e a responsabilidade civil pelo valor do imóvel que determinam.
Consideramos
que basta de alimentar um sistema que tem caminhado na insustentabilidade e num
mercado que funciona na promiscuidade sob o olhar cego de todos os agentes. Após
uma semana de dizer NÃO, os resultados começam a surgir:
- Entre 65%
a 80% dos Peritos que fazem avaliações de Crédito à Habitação estão a recusar
os trabalhos mal pagos que lhes são atribuídos;
- As
empresas enviam Peritos internos para fazer avaliações que, em alguns casos, implicaram
deslocações de mais de 150 km;
- As
empresas sentiram necessidade de ir procurar, às suas bases de dados, Peritos
com que já não trabalhavam para ter a quem atribuir processos;
- Nenhuma
das três associações nacionais (ASAVAL, ANAI e APAE) procurou falar com o MPAI.
Mostraram timidamente alguma preocupação com a nossa causa. A ASAVAL, ao tomar
conhecimento da greve, terá reunido com os bancos e num comunicado, diz ter
envergado pelo diálogo não se revendo em “iniciativas mais radicais”. A ANAI
declarou ao Idealista News que o seu “cavalo de batalha” é a
portabilidade dos relatórios de avaliação. A APAE não se pronunciou.
A
postura das Associações existentes só veio reforçar a ideia de que apenas os
Peritos demonstram vontade de resolver a situação.
Com
todas as suas iniciativas, o MPAI aumentou o número de seguidores: cerca de uma
centena de Peritos ficaram a conhecer, mostraram o seu apoio e pedem para
receber as nossas comunicações.
A comunicação
eficaz e o aumento da base de suporte provam que o MPAI amadureceu, está para
ficar e irá ser um novo interlocutor no debate sobre a profissão.
Face às
realidades que estão a vir ao de cima e tendo encontrado em nós uma comissão
proactiva e não reativa, em contraste com as existentes, começou um novo debate
entre os apoiantes do MPAI – e se prolongássemos a paragem?
“Uma coisa não se muda combatendo-a. Muda-se
criando uma coisa nova que torna a existente obsoleta.” – Buckminster Fuller
MPAI
JUNTOS
SOMOS MAIS FORTES"
Sobre o autor
(Este artigo foi elaborado por João Fonseca, perito avaliador de imóveis e perito avaliador de máquinas e equipamentos, registado na CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) com o registo PAI/2010/0019, membro 7313161 do RICS (Royal Institution of Chartered Seurveyors), RICS Registered Valuer, membro da TEGoVA e European Registered Valuer REV-PT/ASAVAL/2023/8, Vogal do Conselho Fiscal, Disciplinar e Deontológico da ANAI (Associação Nacional de Avaliadores Imobiliários), Membro do Conselho Científico ANAI (Associação Nacional de Avaliadores Imobiliários), da Perito da Bolsa de Avaliadores da Câmara Municipal de Lisboa, Associate Thinker no blogue out-of-the-boxthinking.blogspot.pt. É coautor do livro “Reabilitação urbana sustentável”, ISBN 978-989-8414-10-6. Possui uma Pós-Graduação em “Gestão e Avaliação no Imobiliário” pela Católica Porto Business School e tem o curso de formação em “Avaliação Imobiliária” pela Escola Superior de Atividades Imobiliárias. Tem escritórios na Rua Pinto Bessa, 522, RC, Centro, Esquerdo, 4300-428 Porto e na Rua Visconde de Santarém, 75 C, 1000-286 Lisboa. É formador em avaliação imobiliária na empresa Domínio Binário. A Lei n.º 153/2015 de 14 de setembro regula o acesso e o exercício da atividade e a profissão dos peritos avaliadores de imóveis que prestem serviços a entidades do sistema financeiro nacional.)
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