IVA a 6% e isenção de IMT a que propósito?
O IVA na construção é uma matéria a que o perito
avaliador de imóveis certificado dá muita importância.
A redução da taxa do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) de 23% para
6% é uma medida que, em teoria, poderia baixar os preços finais da habitação. No entanto,
esta expectativa nem sempre se concretiza na prática.
A não repercussão desta baixa no preço final pode ser atribuída a vários
fatores.
Por um lado, os empresários podem optar por manter os preços inalterados
para aumentar as margens de lucro.
Assim aconteceu na restauração.
Por outro lado, pode haver um desfasamento temporal entre a implementação
da medida e a sua efetiva aplicação nos preços ao consumidor. Além disso, a
complexidade do sistema tributário e a cadeia de distribuição podem também
contribuir para que a redução do IVA não se reflita imediatamente nos preços
finais.
A baixa dos preços das casas, por esta via, não vai acontecer.
Já a proposta de isenção do Imposto
Municipal sobre Transações de Imóveis (IMT) para jovens que adquirem a sua
primeira casa tem suscitado um debate aceso. A medida visa facilitar o acesso à
habitação para a população mais jovem, que muitas vezes enfrenta dificuldades
financeiras significativas. Esta iniciativa poderia, em teoria, incentivar a
independência financeira e a formação de um novo agregado familiar,
contribuindo assim para a dinamização do mercado imobiliário.
No entanto, a crítica de que a medida é socialmente injusta não é
infundada. O IMT, sendo progressivo, já é relativamente baixo ou inexistente
para imóveis de menor valor, que são tipicamente aqueles acessíveis aos jovens
compradores. Assim, a isenção deste imposto poderia beneficiar
desproporcionalmente aqueles que, mesmo jovens, têm capacidade financeira para
adquirir imóveis de maior valor, muitas vezes com ajuda familiar. Isso poderia
levar a uma situação em que jovens de famílias mais abastadas adquirem
propriedades de luxo sem contribuir com o imposto correspondente, enquanto os
menos favorecidos continuam a enfrentar as mesmas barreiras financeiras.
Além disso, a política de incentivo à compra pode ter o efeito indesejado
de inflacionar os preços dos imóveis. Ao atuar sobre a procura sem uma
correspondente intervenção na oferta, o governo arrisca-se a criar uma pressão
ascendente sobre os preços, tornando a habitação ainda mais inacessível para
todos, não apenas para os jovens. Este fenómeno, conhecido como "efeito de
segunda ordem", é uma consequência não intencional de políticas que não
consideram o equilíbrio entre oferta e procura.
A longo prazo, a sustentabilidade do mercado imobiliário depende de uma
abordagem equilibrada que considere tanto os incentivos para os compradores
quanto as estratégias para aumentar a oferta de habitação. Medidas como a
construção de habitação a preços acessíveis, a reabilitação de imóveis
devolutos e a regulação de mercados como o de arrendamento de curta duração
poderiam contribuir para uma maior estabilidade dos preços e para uma
distribuição mais equitativa das oportunidades de habitação.
Em suma, enquanto a isenção do IMT para jovens compradores de primeira
habitação pode ter intenções louváveis, é crucial que as políticas
habitacionais sejam cuidadosamente calibradas para evitar desequilíbrios
sociais e económicos. Uma política habitacional eficaz deve ser inclusiva,
justa e sustentável, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso a habitação
adequada e a preços razoáveis, independentemente da sua origem socioeconómica.
Ou seja, a oferta, senhores!
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