ROI vs. Taxa de atualização
Na avaliação de investimentos imobiliários, é comum o perito avaliador de imóveis certificado
deparar-se com dois indicadores que, embora frequentemente confundidos,
desempenham papéis distintos na análise de viabilidade: a taxa de atualização
(ou taxa de desconto, embora eu não goste deste termo) e o ROI
(Return on Investment, ou retorno sobre o investimento). A primeira está
intimamente ligada à lógica financeira da atualização dos fluxos de caixa ao
seu valor presente; a segunda, mais simples e intuitiva, procura aferir o
retorno percentual sobre o capital investido. Apesar de frequentemente
comparadas, estas métricas não se substituem entre si, nem respondem ao mesmo
tipo de perguntas.” A escolha do indicador adequado, ou o uso combinado de
ambos, depende da natureza do projeto e do grau de sofisticação da análise
pretendida.
O ROI é, em essência, uma razão entre o lucro líquido obtido e o valor
investido. A sua principal virtude reside na simplicidade. Se um investidor
comprou um imóvel por 200.000 € e, ao fim de um determinado período,
obteve um lucro líquido de 40.000 €, então o ROI é de 20%.
Esta métrica é particularmente útil em
contextos de comparação entre diferentes oportunidades de investimento,
precisamente porque permite traduzir o desempenho em termos percentuais.
Contudo, esta mesma simplicidade pode ser enganadora. O ROI não considera o
tempo necessário para alcançar esse retorno, nem a distribuição temporal dos
fluxos de caixa, nem tampouco os riscos associados ao projeto. Um ROI de 20%
obtido em dois anos não é equivalente a um ROI de 20% obtido em cinco anos —
embora a métrica, isoladamente, não o revele.
É precisamente para lidar com essas limitações que surge a taxa de
atualização. Este conceito parte do princípio fundamental das finanças: o valor
do dinheiro varia no tempo. Um euro hoje não tem o mesmo valor que um euro
daqui a cinco anos. Assim, a taxa de atualização é utilizada para trazer para o
presente os fluxos de caixa futuros, ajustando-os segundo uma determinada taxa
que reflete o custo de oportunidade do capital, a perceção de risco ou o
retorno mínimo exigido pelo investidor. Ao aplicarmos esta taxa aos fluxos
esperados, obtemos o valor presente, ou seja, quanto vale hoje o conjunto dos
rendimentos futuros esperados.
A grande virtude da taxa de atualização reside na sua capacidade de
incorporar o risco e o tempo na análise. Projetos com o mesmo ROI podem ter valores
presentes muito distintos quando sujeitos a taxas de desconto adequadas. Além
disso, este método permite simular diferentes cenários (mais ou menos
conservadores), o que é particularmente relevante em contextos de incerteza,
como é o caso da promoção imobiliária, onde o prazo de desenvolvimento, o
comportamento do mercado e as condições de financiamento podem variar
significativamente.
Contudo, a utilização da taxa de
atualização exige maior rigor técnico. É necessário estimar fluxos de caixa
com alguma precisão, definir uma taxa de atualização adequada, nem sempre
consensual, e utilizar ferramentas financeiras mais exigentes. Para muitos
investidores ou decisores, o ROI mantém uma atratividade prática justamente por
evitar essa complexidade, oferecendo uma visão rápida do retorno esperado. Por
isso, o uso combinado de ambos os indicadores pode ser uma abordagem mais
completa: o ROI como ponto de partida, acessível e imediato; a taxa de
atualização como instrumento de análise aprofundada e de suporte à decisão
final.
Importa, por fim, sublinhar que a escolha entre ROI e taxa de atualização
não deve ser feita de forma dicotómica. Cada um tem o seu papel, as suas
vantagens e limitações. Em avaliações mais sumárias ou para efeitos de
comunicação com “stakeholders” menos técnicos, o ROI pode ser suficiente. Já
quando se pretende tomar decisões informadas com base em cenários financeiros
detalhados, a taxa de atualização é incontornável. A maturidade de uma análise
financeira está, justamente, na capacidade de saber quando e como utilizar cada
uma destas ferramentas.

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