A taxa de atualização não é importante
O mês de agosto é um mês de férias, o que traz consigo a necessidade de descanso, tanto para o autor do blogue e perito avaliador de imóveis, como para os leitores.
Não quero dizer com elas palavras que não vou escrever nas próximas
três semanas, mas que vou republicar três artigos que escrevi noutros blogues e
que me deram muito prazer fazê-lo.
Hoje vou iniciar este périplo por blogues alheios com um artigo que
escrevi para o “Out
of the Box”, com o título “Taxa
de actualização: pressuposto ou consequência?”. Se fosse hoje, o título do artigo seria “A
taxa de atualização não é importante”:
“Escrever sobre taxas de atualização é recorrente, eu não fujo à regra
e este blogue também não.
É um tema sempre presente no âmbito da avaliação de imóveis,
nomeadamente quando os imóveis são avaliados com o recurso a técnicas de fluxos
de caixa descontados.
A taxa de atualização costuma ser um pressuposto da avaliação, a par
dos custos de construção, diretos ou indiretos, dos valores de venda ou ainda
do prazo de realização de todo o processo de desenvolvimento imobiliário.
A sua obtenção é sempre uma dificuldade porque somos obrigados a
justificá-la (é uma exigência, por exemplo, da Lei 153/2015, de 14 de setembro)
e somos tentados a viajar entre o CAPM (Capital Asset Pricing Model) e a wacc
(weighted average cost of capital), esquecendo-nos que, em primeira instância,
é o mercado que dita a taxa de atualização.
Eu tive a oportunidade de conversar sobre este assunto com Amaro Laia,
Diretor e docente da Pós-Graduação em Gestão e Avaliação Imobiliária (PGAI), do
ISEG, que muito assertivamente me explicava: “Para mais uma aproximação
alternativa, o CAPM pode ser utilizado, mas sem esquecer que o beta só se
consegue por aproximação por via de carteiras/índices para o segmento idêntico
ao que estamos a avaliar. Ou se utiliza os betas e os outros parâmetros do
CAPM, publicados por Damodaran.”
Estando o CAPM incluído no cálculo da wacc, o problema subsiste. Existe
uma outra técnica, denominada “build-up”, mas não é consensual tal a sua
subjetividade.
De certa forma, ficamos reféns de um conceito que provoca uma reação
muito elástica no valor residual, a qualquer alteração que seja feita.
O desafio que quero aqui deixar é deixarmo-nos de nos preocupar tanto
com a taxa de atualização e focar a nossa atenção noutros parâmetros que
possamos dominar melhor. Ela estará presente, com certeza, no nosso fluxo de
caixa, mas passará a ser uma consequência e não um pressuposto.
Quando se elabora um fluxo de caixa descontado, o nosso trabalho não
termina na obtenção do valor residual. É preciso fazer todo um trabalho de
validação do resultado obtido.
A validação deverá ocorrer a dois níveis.
O primeiro passo é verificar se a estrutura de custos obtida é
coerente. Recordamos a este respeito um artigo do nosso colega Francisco
Espregueira, neste blogue, intitulado “A Importância da Estrutura de Custos”,
escrito em 2014. O autor afirma “A realização de uma boa Estrutura de Custos,
bem equilibrada, é de vital importância. Para tal e com destaque basilar,
deve-se, como sempre, realizar uma aprofundada e cuidada prospeção de mercado.
Quando se diz “uma prospeção” deve entender-se como várias.”
Uma segunda validação a realizar é assegurarmos um peso correto dos custos no valor total de venda, no fundo o retorno do investimento. Deveremos dividir a soma de todos os custos, incluindo o custo do terreno pelo total das vendas, depois da promoção estar concluída. Este rácio poderá ser maior ou menor consoante a duração do projeto.
Aquilo que proponho é que estendamos o nosso fluxo de caixa descontado
para lá do próprio fluxo de caixa descontado, construindo a estrutura de custos
e o cálculo do retorno do investimento.
Se nós perguntarmos a qualquer promotor imobiliário a que taxa atualiza
os seus fluxos de caixa, ou se utiliza o CAPM ou a wacc, ele não saberá
responder, mas saberá dizer de certeza absoluta qual o retorno do investimento
que exige.
Fixando o retorno do investimento, e recorrendo ao “Atingir objetivo”
que existe em qualquer ferramenta, conseguimos fechar a nossa estimativa.
E lá aparecerá, no final, a nossa taxa de atualização, obtida, de
certeza absoluta, através do mercado! Será uma consequência e não um
pressuposto.
Finalmente, pensando alto, não conseguiremos por esta via estabelecer a
diferença entre os CAPM de Damodaran e os CAPM de Portugal?”
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