O que sobra da greve dos peritos avaliadores?

 Para o leitor que não tiver a paciência de ler todo o artigo, digo-lhe desde já o que sobra da greve dos peritos avaliadores de imóveis, do início do ano:


-Nada


O ano de 2022 foi pautado por uma novidade, no que diz respeito à atividade dos peritos avaliadores de imóveis para o crédito hipotecário: foi realizada uma greve às avaliações.


João Fonseca | Perito avaliador de imóveis


Sucintamente, as suas reivindicações eram:


-Subida dos honorários de avaliações;


-Alargamento dos prazos de entrega dos relatórios de avaliação;


-Eliminação imediata das penalizações por entrega fora de prazo, quando a responsabilidade é alheia ao Perito.


Na altura existiu um grande burburinho relativamente ao seu impacto:


-Os peritos avaliadores ficaram satisfeitos com a sua ação, considerando que os seus objetivos foram cumpridos.


-As empresas de avaliação minimizaram os impactos e a associação que alberga a maior parte destas empresas regozijou-se também com os ganhos obtidos em negociações com a Banca, posicionando-se como a única que defende os seus interesses:


/” … Pois é com uma grande satisfação e com um forte sentimento de dever cumprido que estamos em condições de comunicar aos nossos Associados que temos tido uma forte adesão dos Bancos e das Sociedades Gestoras de Fundos de Investimento em anuir às nossas solicitações e preocupações, com acordos já implementados nas atualizações de honorários, entre outras correções.

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Infelizmente e talvez incompreensivelmente nem todos os Peritos Avaliadores Imobiliários em Portugal são Associados da ASAVAL, mas nem por isso ficarão de fora das melhorias conseguidas e provenientes destas iniciativas da ASAVAL.(…)”

 

-A Banca ia “assobiando para o lado”, já desde o início do ano, como foi exemplo a apresentação do representante da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Eng. José Caetano Oliveira, no webinar “Normas Internacionais de Avaliação”, que explicou que os bancos vão ao mercado (leia-se empresas de avaliação) e perguntam preços. O mercado (leia-se empresas de avaliação) dita os preços e pronto, assunto arrumado. A banca não tem nada a ver com o tema.


Estamos no fim do ano e pareceu-me justo fazer um ponto de situação das consequências da greve e de toda a retórica instalada. O que mudou desde então?


Nada.


Este “nada” não vai alterar-se para melhor nos próximos meses, talvez nos próximos anos. Eu diria mesmo que vai piorar.


A única defesa do perito avaliador de imóveis para crédito hipotecário era o volume de avaliações, que poderia propiciar economias de escala. Com a previsível retração na aquisição de habitação com crédito hipotecário, inevitavelmente o número de avaliações efetuadas por cada um destes colegas vai diminuir.


Vamos continuar a ter avaliações mal pagas, em muito menor número, não cobrindo os custos da estrutura destes técnicos.


As nuvens que aí vêm são negras para o perito avaliador de imóveis para crédito hipotecário!

2 comentários:

  1. Completamente de acordo. Enquanto o "papão" for alimentado, não tem necessidade de procurar "comida". À muito que sou defensor de relatórios subscritos individualmente e com termo de responsabilidade.

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  2. Com tantas obrigações vigentes, pena que a CMVM não imponha aos bancos um limite ao anormal e imoral lucro que fazem com os peritos avaliadores. 30% já é uma margem razoável, ganhar o triple não é razoável nem aceitável

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