O risco na avaliação de imóveis.
O International Valuation Standards Council (IVSC) publica regularmente documentos chamados Perspective Papers, que têm como objetivo fomentar o debate e aprofundar a reflexão sobre temas relevantes no âmbito da avaliação, sobretudo na sua ligação com as International Valuation Standards (IVS). Estes documentos não substituem as normas IVS, nem possuem força vinculativa, mas oferecem orientação técnica, contextualização e exemplos úteis para o perito avaliador de imóveis certificado. Servem como complemento às normas, promovendo boas práticas e estimulando o desenvolvimento profissional dos avaliadores imobiliários.
O mais recente destes documentos, publicado em maio de 2025 com o título “Getting the Process Right: Exploring Valuation Risk under IVS”, centra-se no conceito de risco de avaliação (valuation risk), que é definido como a possibilidade de o valor estimado não ser adequado ao fim a que se destina, devido a falhas ou insuficiências no processo de avaliação.
O IVSC sublinha que é fundamental distinguir entre dois
conceitos que muitas vezes se confundem: o risco associado ao processo de
avaliação (valuation risk) e a incerteza do valor (value uncertainty). O
primeiro diz respeito à qualidade do processo (por exemplo, erros nos cálculos,
pressupostos inconsistentes ou falta de fundamentação), enquanto o segundo se
refere à variabilidade natural do valor em função das condições de mercado,
características do ativo ou outros fatores externos.
Neste Perspective Paper, o IVSC apresenta vários exemplos
concretos de situações que podem gerar risco de avaliação, agrupando-os em
quatro categorias principais:
-Erros de cálculo, como:
//Cálculo
incorreto dos fluxos de caixa;
//Aplicação
errada da taxa de atualização;
//Cálculo
inadequado do valor residual.
-Inconsistências nas estimativas, como:
//Previsão de crescimento elevado das receitas sem correspondente aumento de capital investido;
//Uso de
fluxos de caixa antes de impostos combinados com uma taxa de atualização após
impostos;
/Inclusão
de taxas de crescimento de longo prazo sem previsão de reinvestimento
necessário.
-Falta de fundamentação dos pressupostos, incluindo:
//Expectativas
de crescimento em mercados maduros sem justificação plausível;
//Melhoria
de margens sem análise da relação entre preços e custos;
//Ausência
de explicação sobre a capacidade de criação de valor a longo prazo em mercados
concorrenciais.
-Erros de julgamento profissional, que ocorrem
especialmente quando:
//Se aplica
um modelo simplificado a um ativo complexo;
//O
avaliador não possui formação ou experiência suficiente;
//Há
enviesamentos inconscientes ou decisões sem a devida análise critica
profissional.
O documento chama ainda a atenção para os fatores que
agravam o risco, como a complexidade do ativo avaliado, a pressão do tempo, a
multiplicidade de avaliações simultâneas e a falta de procedimentos de controlo
de qualidade.
Para mitigar o risco de avaliação, o IVSC recomenda:
-O reforço das políticas internas e da documentação dos
procedimentos de avaliação;
-A valorização da experiência e formação dos avaliadores;
-A adoção de práticas de revisão interna, análise crítica
e validação cruzada dos resultados;
-O recurso a auditorias de modelos ou a especialistas
externos, sempre que necessário.
Concluindo, este Perspective Paper reforça que a
credibilidade do valor estimado depende da qualidade do processo que o origina.
O risco de avaliação não pode ser eliminado por completo, mas pode – e deve –
ser minimizado através do cumprimento rigoroso das IVS, do exercício
responsável do julgamento profissional e da implementação de boas práticas de
controlo e documentação. Trata-se, no fundo, de garantir que o valor estimado é
fiável, apropriado e útil para quem dele depende para tomar decisões.

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